Para uma banda que todo mundo acha que já chegou lá, o Fall Out Boy recusa-se a deitar nos meritos. E, quando os resultados são tão bons assim, porque eles deveriam fazer isso?
Descobrir onde os integrantes do Fall Out Boy estão, lembra um episódio do antigo jogo de geografia Onde está Carmen Sandiego? É aproximadamente um mês depois do lançamento do sexto álbum de estúdio da banda, “American Beauty/American Psycho”, e os camaleões do rock estão ocupados tocando em shows de fim de ano enquanto dão os últimos detalhes no álbum.
O baixista Pete Wentz está em Minneapolis, enquanto o baterista Andy Hurley participa da conversa diretamente de Portland (Alguns dias depois, ele terminará a conversa no aeroporto da cidade, enquanto está preso devido a um atraso nos voos pelo mau tempo). Os mesmos problemas de voo em Oregon atrasam a conversa da Alternative Press com o guitarrista Joe Trohman, que eventualmente liga de Los Angeles. O vocalista Patrick Stump fala enquanto está em um hotel em Reno, horas antes (graças as desventuras de viagem de Andy Hurley) do Fall Out Boy acabar fazendo uma inesperada apresentação acústica para uma rádio.
Mas ninguém na banda está reclamando dos agitados turnos de viagens ao redor do país ou o contratempo do show. Afinal, um estilo de vida nômade e com aventuras inesperadas são a regra para o Fall Out Boy, especialmente desde 2013, quando eles colocaram fim a um hiato de vários anos com o álbum “Save Rock And Roll” e embarcaram em um itinerário de turnê que os levou a todos os cantos do globo (e os trouxe de volta) com bandas como Paramore e Panic! At The Disco. No ano passado, os integrantes da banda passaram por muita agitação além do redemoinho musical: tanto Joe Trohman quanto Stump se tornaram pais pela primeira vez (respectivamente de uma menina chamada Ruby e um menino chamado Declan), enquanto Wentz deu boas vindas ao seu segundo filho, Saint Lazslo.
Durante essas conversas antes das festas de fim de ano, é óbvio que a combinação de paternidade recente e loucura constante na estrada não abalou o lado emocional da banda. Os quatro integrantes parecem estar entusiasmados e otimistas, e são prestativos e detalhistas enquanto falam tanto sobre as novas músicas quanto sobre a continua presença do Fall Out Boy na cultura pop. A julgar por “American Beauty/American Psycho”, que é uma bola de curva que rompe com gêneros assim como o restante da discografia da banda, o movimento perpétuo está na verdade renovando a criatividade da banda.
“Save Rock And Roll” foi definitivamente uma mudança, mas esse álbum me dá uma sensação muito maior de mudança,” diz Hurley com sua voz suave, durante sua conversa no aeroporto. “(Com o último álbum), nós testamos as barreiras do que podemos fazer, e funcionou, as pessoas abraçaram a ideia. Nós até temos uma legião de fãs completamente nova que surgiu com aquele álbum. Eu não sei se os compositores tiveram essa sensação, mas para mim, eu definitivamente senti que (em “American Beauty/American Psycho”) há ainda menos medo de sair dos limites do que nós criamos, do que era a realidade musical do Fall Out Boy. Agora não há mais barreiras, o que é ótimo.”
Como está implícito no título, “American Beauty/American Psycho” está repleta de contrastes. A faixa título eletro-metálica oscila como uma montanha russa jurada de morte (cortesia de chocantes mudanças no ritmo, produção do DJ/músico francês SebastiAn guiada por loops, e samples de Too Fast For Love do Motley Crue). Enquanto isso, a áspera “Novocaine” é uma antagônica canção de rock, manchada de distorções e com uma melodia vocal surpreendentemente leve e delicada. Depois tem “Twin Skeletons (Hotel In NYC)”, uma canção temperamental que mistura guitarras como as do Interpol e melodias de lamento que lembram Gangsta’s Paradise do Coolio.
Ainda assim, “American Beauty/American Psycho” não força esse sons discrepantes de uma vez só, até mesmo nas canções mais introspectivas, essas misturas parecem ser frouxas e alegres.
“Há uma certa espontaneidade nesse álbum que realmente não tínhamos há muito tempo,” diz Stump. “Parte disso é o fato de que estávamos tendo filhos, e não tínhamos muito tempo de sentar e descontruir as coisas e tentar e resolver. Mas isso também foi intencional, nós queríamos simplesmente capturar algo.” Uma das coisas em especial que Stump queria se empenhar era coesão na composição das canções. “Eu queria algo que soasse como um álbum,” ele diz. “Eu já disse antes que eu fiquei desapontado com o álbum de 2005, “From Under The Cork Tree”, mas isso não é verdade, eu amo “Cork Tree”, ele é sensacional. Mas, um dos meus únicos arrependimentos sobre aquele álbum é que ele se parece como 10 álbuns, ou algo assim. Parece que todas essas ideias diferentes foram salpicadas, ao invés de passar a sensação de um álbum. Me senti de maneira similar com “Save Rock And Roll.” Também amo aquele álbum, estou muito contente com ele. Mas eu meio que queria que ele tivesse um som mais característico. Ele realmente não soa como uma coisa única. Com esse álbum, eu queria encontrar uma forma de construir quase que um mundo sonoro e habitá-lo e descobrir lugares diferentes nele,” ele continua. “Daqui a 20 anos, se você for voltar na discografia do Fall Out Boy e ouvir esse álbum, você vai passar pelas canções e elas não irão soar todas iguais, mas você vai saber que elas são todas de um mesmo álbum.”
Apesar do Fall Out Boy atuar em um universo musical cada vez mais guiado por singles, a banda permanece disposta a produzir álbuns completos. Esse gesto pode ser entendido como tradicional demais, no entanto, cada integrante da banda deixa plenamente claro que eles não estão presos a tradições ou nostalgia, principalmente quando se trata de suas próprias canções. Apesar de Wentz realçar que a banda tem muito respeito pelo álbum e pela época dele, ele diz que eles “não iriam fazer uma turnê de 10 anos de “Take This To Your Grave”. Nada disso pareceu ser autêntico para nós como banda.”
Hurley também é filosófico no mesmo nível. “Há algo artisticamente gratificante e importante sobre se desafiar de formas que provavelmente não são confortáveis, ou tentar coisas novas ou explorar músicas a medida que elas aparecem,” ele diz. “Viver no passado não é tão empolgante. Além disso, eu simplesmente penso que você não quer se manter esse organismo unicelular para sempre. Eventualmente, nós queremos nadar, e depois sair do mar, e nos tornarmos bípedes, e depois construir carros e skates voadores e outras coisas. Você quer evoluir como banda e como artistas, e não continuar fazendo a mesma coisa. Se manter relevante, isso é o importante.”
O Fall Out Boy se mantém com o mesmo pensamento focado em progredir quando o assunto é como eles abordam (e apreciam) o rock no geral, principalmente porque esse gênero diz respeito a “American Beauty/American Psycho”.
“Nós de fato apreciamos elementos de música moderna, do que está realmente acontecendo agora, do que ainda está para acontecer,” diz Trohman. “É uma coisa tão clichê, mas nós gostamos de continuar sentindo a pulsação. Não queremos que ela se estagne, e não queremos perder tempo com o que já foi, nós queremos seguir em frente. Essa foi a nossa afirmação com o último álbum e isso é o que ainda está em jogo. É por isso que gostamos de centrar tudo no fato de que somos uma banda que toca rock. É por isso que há tantos outros elementos nisso, do hip hop a música eletrônica ao funk e ao jazz. Nós escavamos tudo.”
Wentz é ainda mais direto sobre suas ambições: “Eu quero mostrar ao mundo… que você pode fazer músicas que são tocadas no rádio, e você pode tocá-las em arenas, e podem ser contemporâneas,” ele diz. “Não precisa ser feito pelo legado, não precisa parecer um retrocesso.”
O desejo implacável de descobrir o que vem a seguir garante que o som do Fall Out Boy sempre esteja caminhando junto com o pop e o rock moderno. Mesmo assim, a teimosa incapacidade da banda de ser rotulada, também significa que eles nunca se encaixaram com o conceito de popular. De uma forma, eles sempre trabalharam ao mesmo tempo de forma paralela e distante das tendências contemporâneas. “Sabe, se você fosse fazer uma coletânea do Fall Out Boy e tentasse encaixar as músicas em qualquer ano que fosse, elas não fariam o menor sentido,” diz Stump. “Nenhuma dessas canções deveria ter sido tocada no rádio.” Ele ri, “Eu não sei como isso continua acontecendo. Isso é tão intrigante para mim como para qualquer outra pessoa.”
A humildade inata permanece sendo parte do charme do Fall Out Boy. Para o tamanho massivo que a banda parece ter, eles ainda não acreditam no próprio potencial ou se enxergam como pertencentes ao meio popular da música. Wentz, principalmente, tem muito a dizer sobre ser apegado a ideia de ser um azarão. (Na verdade, após elaborar bastante sobre esse tópico durante uma conversa pelo telefone, ele mandou um e-mail com mais pensamentos sobre o assunto alguns dias depois.) “Ainda precisamos chegar com tudo todas as vezes,” ele diz. “Você sabe, ainda temos que fazer por merecer todas as vezes. Temos que ir lá e ter certeza de que a nossa arte vai ser bem sucedida. Talvez com “Infinity On High”, não tivemos que chegar tão com tudo assim e foi por isso que conseguimos cantar uma música como “This Ain’t A Scene, It’s An Arms Race” no American Music Awards.
“Nós realmente vamos lá e fazemos nossa música ser ouvida,” ele ressalta. “E realmente tentamos fazer o álbum ser especial. E com esse álbum, ou qualquer outra coisa que fizemos, nos foram oferecidos caminhos diferentes, há caminhos que poderíamos pegar que provavelmente seriam mais fáceis, mas seriam menos satisfatórios. E no final do dia, não conseguiríamos defender esse tipo de trabalho. Se realmente não somos azarões, eu não sei se saberíamos como existir, porque o sentimento é sempre de que nós quatro estamos lutando contra o resto do mundo.”
Poderia ser difícil se reconciliar com essa postura defensiva, principalmente depois do sucesso de “Save Rock And Roll” e do retorno sem emendas da banda. Mas, o Fall Out Boy não deixa de dar valor ao sucesso ou a adoração dos fãs, já que eles descobriram após 2008, com o álbum Folie A Deux que essas coisas podem desaparecer num piscar de olhos, porque a fama é fugaz e inconstante. O que importa no final do dia é o que sempre importou para o Fall Out Boy: escrever e lançar músicas com elementos que desafiem o que se espera deles.
Ainda somos meio que esses caras nerds, e isso realmente não muda,” diz Stump. “Mas não é só isso, não é apenas manter quem você é, ou alguma coisa boba desse tipo. Já estivemos na capa da Billboard, já fomos indicados ao Grammy, já fomos a atração principal no Madison Square Garden. Todos esses marcos. Você pode dar um ok nessa lista e falar, ‘ah, claro, esses caras são bem famosos.’ Mas ninguém ainda parece realmente apreciar isso como algo importante, nem nós mesmos. Você esperaria coisas assim da Taylor Swift, você espera isso do U2, você espera isso dessas bandas grandes. Ninguém espera isso do Fall Out Boy.”
No fim do dia, ainda somos uma surpresa para as pessoas, incluindo para nós mesmos,” Stump assume. “Uma das coisas que nos motiva e nos define é que, nunca iremos nos sentir muito famosos ou bem sucedidos, sabe o que quero dizer? Não acho que isso é quem nós somos agora.”
SCANS DA REVISTA:
Fall Out Boy na AP:320 (Março de 2015) História: Annie Zaleski / Fotos: Tom Stone / Local: Rock Wall Wine Company, Alameda, CA
Fonte:Starrlesscity
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