Pete Wentz, o notório baixista da banda americana de pop punk Fall Out Boy fala sobre separações, a humilhação pelo vazamento de suas fotos íntimas e seus pesadelos de infância.
Oi Pete! O Fall Out Boy, reformado, acaba de anunciar dois shows na Wembley Arena em outubro – esse é o velho truque de fingir se separar por três anos até que as pessoas comecem a se importar de novo?
A verdade é que, quando a pausa aconteceu (1) – eu só posso falar por mim mesmo, pessoalmente – mas eu não queria entrar em uma pausa. Eu não estava interessado. Foi muito difícil para mim e eu passei por um momento difícil em minha própria vida. Para mim foi potencialmente uma separação onde talvez vocês voltem a ficar juntos. Mas eu não consigo pensar de cabeça em muitas bandas que se separaram, deram um tempo e depois voltaram e tocaram material novo, que foi tocado nas rádios. Esse foi o verdadeiro truque que tentamos.
Por que vocês se separaram?
Havia tantas pequenas coisas, pequenos momentos. Nós lançamos um disco estranho (2) e não estávamos realmente falando uns com os outros naquele ponto. Havia muitas entrevistas sobre a minha vida pessoal que estavam ficando no caminho de tudo. A comunicação simplesmente se rompeu. Todo mundo passa por momentos difíceis mas se você não fala sobre isso, isso pode se tornar realmente maligno. Nós nos sentimos subestimados por alguns dos fãs. A vida tem seus altos e baixos, e é assim com as bandas também. O Fall Out Boy é como uma grande máquina caótica. Nós tocamos em todo o mundo e estamos constantemente com fadiga das viagens. Nós passamos por 12 ou 14 anos simplesmente sem parar, sem ter tempo para processar o que estávamos passando. Mas eu acho que ao darmos um tempo, nós percebemos que aquelas outras três pessoas são as únicas outras pessoas que experienciaram isso, e é como uma banda de irmãos. Nós brigamos como irmãos, literalmente.
Você estava tendo problemas com medicamentos prescritos também…
Isso ficou fora de proporção. Eu disse isso em uma entrevista à Rolling Stone e aí girou em torno dessa coisa, tipo “Oh, Pete vai para a reabilitação!”, mas nunca foi esse tipo de coisa. Tive ansiedade severa na época, e por isso envolveria beber antes de subir ao palco. Eu fiquei muito desajeitado – não era uma coisa bonita. Mas isso foi em literalmente alguns meses. Eu acho que a coisa dos comprimidos existiu mas nunca ficou tão fora de controle a ponto de que alguém tivesse uma conversa comigo em que eu não fazia meu trabalho ou não estava lá para os amigos. Foi uma coisa que eu parei quando tive filhos.
Você disse que se sentiu desprezado na época, por quê?
As pessoas estavam revendo nossos discos e shows com base no que eles achavam de mim pessoalmente. Você é quem você é na sua cabeça. E depois há essa outra perspectiva que a mídia e talvez as pessoas que leem a mídia tem. Você provavelmente está em algum lugar no meio disso, mas eu descobri que quando eu ia conhecer as pessoas, parecia que a impressão que elas tinham de mim era tão ruim que eu tinha que lutar para chegar no nível de “Ah, ele é um cara decente”. Parecia que havia uma opinião sobre mim antes mesmo de eu interagir com alguém. Um personagem de quem você é é criado e é muito fácil de julgar tipo, “Ah, esse cara é um babaca”, porque ele faz coisas de babacas. Quando você está em seu 20 anos, se alguém lhe dá as chaves do castelo e diz “Você não terá nenhum problema”, é difícil não correr e ver o que isso implica. Mas em algum momento eu consegui tirar isso do meu sistema; Eu penso bem antes do que me foi dado crédito.
O baterista do FOB, Andy Hurley, disse que a pausa os tornou um 1 milhão de vezes melhores como pessoas – como?
A única coisa que realmente me aconteceu durante a pausa foi que a minha vida pessoal meio que desmoronou (3) e eu consegui colocar tudo de volta em ordem. Eu fiz terapia, levei meu filho à pré-escola todos os dias e fui à minha cafeteria local apenas como um ser humano adulto normal, e eu acho que isso provavelmente lhe dá alguma perspectiva. Eu acho que ter o meu filho e ser pai foi a melhor experiência para mim. Eu acho que agora tenho mais empatia. Eu sou um ouvinte melhor e uma pessoa mais paciente. Eu também sei que posso ser uma pessoa muito difícil de lidar às vezes, então quando estou sentindo que estou sendo louco eu simplesmente vou para o meu quarto de hotel, ao invés de ficar perto das pessoas. Todo mundo tem altos e baixos, roupas terríveis e cortes de cabelo ruins, diz coisas estúpidas e tudo, mas é estranho quando você faz isso em público porque todo mundo fica sabendo. Isso cria uma paranoia estranha.
Durante a pausa você também apresentou Best Ink – um reality show tipo America’s Next Top Model, mas com tatuadores – e escreveu um romance chamado Gray. Essa foi a sua chance de finalmente assumir o centro das atenções?
Best Ink foi muito divertido de fazer. Embora eu seja uma pessoa que é um entusiasta das tatuagens, aprender de verdade sobre a arte e espessuras de linha, saturação de cores e escala de cinza foi muito legal. Foi uma lição de verdadeiros mestres no campo. Com Gray, eu escrevi essa peça fictícia há muitos anos, e quando eu me divorciei eu estava olhando as minhas coisas antigas e pensei que talvez eu reunisse tudo e lançasse. Demorou cerca de seis anos para ficar pronto, no momento em que eu o escrevi, não tinha quaisquer pensamentos lineares. Então o eu transformei numa banda crescendo e se separando, aí de repente as pessoas estão dizendo, “Oh, isso é como uma autobiografia!”. E eu digo, não, se a autobiografia um dia acontecer, vai ser muito mais estranha! Eu não sei se eu escreveria outro livro. Eu achei que seria semelhante a escrever canções, mas não foi. Isso me deu um novo respeito por escritores e autores. Não foi um processo que eu particularmente gostei.
Você foi notoriamente conhecido como o baixista que mais ofuscava seu vocalista, mas quando vocês reformaram o FOB, o vocalista Patrick Stump havia se tornado, de surpresa, uma espécie de deus sexy. Foi estranho de repente não ser de fato o líder?
Eu faço a mesma coisa na banda que eu fazia antes e Patrick faz a mesma coisa que ele fazia antes. Ele perdeu um pouco de peso, o que é ótimo para sua confiança, mas tirando isso ele apenas perambula um pouco mais pelo palco. Ele sempre foi um grande líder, ele só nunca tinha visto isso dessa forma. Quando eu penso sobre os Rolling Stones às vezes eu penso no Mick Jagger, mas às vezes eu penso no Keith Richards. Dias diferentes para diferentes partes de uma banda..
Seu novo álbum, American Beauty/American Psycho, é repleto de momentos de electro-pop comercial – vocês são oficialmente Fall Out Boyband agora?
Eu posso ver como as pessoas veriam isso dessa forma, mas quando lançamos “Sugar, We’re Goin’ Down“, “Dance, Dance” e “Thnks Fr Th Mmrs“, todas essas estavam no Radio 1 A-lists pop, no TRL, na MTV. Isso nunca foi uma coisa assustadora para a gente. Você vai embora por quatro anos e seu som tem que se adaptar. Eu sinto que se você vai ser um influenciador da cultura pop, você tem que tocar nas rádios pop. Estamos tentando ser essa banda.
Como um dos primeiros casos famosos de fotos íntimas vazadas (4), você achou que o escândalo de hackearem essas fotos foi equivalente a abuso sexual?
Eu acho que sempre que você entra no espaço privado de alguém, e você tira algo disso, é roubo. Eu não sei como você define até onde que tipo de crime é esse, mas parece que deveria haver certa decência humana que compartilhamos. Você tem que entender que as celebridades ainda são seres humanos. Você ainda tem que tratar as pessoas com a mais básica decência humana. Você não tem que amar alguém, você nem mesmo tem que gostar de alguém, mas invadir seus telefones e tomar fotos deles é simplesmente ridículo. As pessoas não acham que há um ser humano ligado a isso. Eu tive tantas reações ao ponto de dizerem, “Você vazou fotos de si mesmo”. Como, de alguma forma, isso iria beneficiar a minha vida ou fazer eu me sentir melhor comigo mesmo? Foi simplesmente insano para mim. E então houve um momento em que eu pensei, se estes são os termos em que fazemos essa banda, eu não quero estar nessa banda. Eu senti que minha privacidade havia sido invadida. Mas eu sou um garotão, sou casca grossa e isso está em um nível pequeno comparado ao que aconteceu no ano passado. É muito terrível.
Apesar da humilhação, você passou a construir um império, incluindo uma produtora de filmes, uma gravadora, uma linha de roupas, uma rede de bares Angels & Kings e vários projetos de caridade – você é o Jay Z do punk rock?
Há apenas um Jay Z. Ele é único. O que eu tentei fazer foi abordar o mundo com a ideia de que temos que criar uma comunidade ou uma cultura, e às vezes isso será um clube que sai de um bar, ou uma linha de roupas. Às vezes é mobilizar as pessoas para idéias de caridade. É tudo meio que contínuo para mim. Jay Z? Eu acho que ele apenas descobriu a fórmula primeiro, ou a melhor versão dela.
Em seu livro The Boy With The Thorn In His Side, detalhando seus pesadelos de infância, qual foi o pior?
O pior pesadelo era sobre um médico que tinha tentáculos. Os tentáculos viriam por debaixo da porta.
Notas
(1) Fall Out Boy entrou em um hiato indefinido em 2010, o qual Wentz preferiu descrever como a banda nervosíssima se “descomprimindo”.
(2) Folie à Deux, de 2008, vendeu um milhão de cópias, mas foi tão mal recebido por alguns fãs que o FOB era vaiado quando tocava músicas dele ao vivo.
(3) O casamento de alto perfil de Pete com Ashlee Simpson acabou em 2011, Simpson alegando que eles “se casaram muito jovens”; o casal tem um filho, Bronx Mowgli.
(4) Em 2006, uma selfie do pênis de Wentz vazou na internet, no que ficou conhecida como Peengate.
(5) De acordo com dreamoods.com, tentáculos em sonhos representam relacionamentos pegajosos, médicos significam uma necessidade de cura espiritual, e portas fechadas são um símbolo de oportunidades sendo negadas a você. Nota: isso tudo pode ser uma grande besteira.
Fonte:The Guardian
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